Sinopse
O que salta aos olhos no que Rogério escreve não é exatamente essa narrativa fascinada pela linguagem. Nem tampouco o ritmo, num encadeamento que procura em cada frase o sentido da próxima, sua conexão plausível, mas nunca óbvia.
A palavra é sua cisma, não duvido, mas o que se esconde atrás dela é um momento histórico e cultural específico: um quadro onde se cruzam referências tantas e tão diversas que só poderiam caber nesse confuso mistério a que deram o nome de Brasil.
E embora o tema da nacionalidade não seja tão evidente em sua poesia, ele parece o fio invisível que une as pontas, atribuindo-lhes margem, centro e rumo. Como o negativo que antecede a imagem, em tudo o que Rogério escreve está antes inscrita sua impressão do que é ser brasileiro. Mais que uma identidade,
uma predisposição a olhar o mundo a partir de uma moldura característica, que evoca Oswalds, Duprats e Agrippinos pra liquidificar o tropical caroço do nosso angu.
Baseada nessa ótica peculiar, sua escrita vai aos poucos manifestando a filiação à mais saudável das motivações estéticas: o estranhamento.
Desconfiada do senso comum, da ordem natural das coisas e de tudo o que é dado por certo, sua poesia se mostra saborosamente livre pra dançar em praça pública 'como Pomba Gira sem norte ou Exu na contra-mão'.
Ele quer se desamarrar de qualquer obrigação pra poder retratar em cada verso
o labirinto da busca pelo seu próprio avesso.