Sinopse
Neste teatro que é o mundo, nada causa mais admiração do que o homem. Com essa proposição poderia ser resumido o início do Discurso sobre a dignidade do homem, texto com que Pico della Mirandola revolucionou a cultura ocidental, compondo uma das obras-chave do pensamento renascentista. O Discurso foi redigido em 1486 como introdução às novecentas teses que o autor apresentaria publicamente para promover o diálogo entre diferentes fés e saberes. Pico foi acusado de heresia e o Discurso, nunca proferido, veio a compor em parte sua Apologia, passando a circular com esse título só após a morte. Nesse texto são investigadas a natureza do ser humano, complexa e mutável, e sua capacidade de conciliar os diferentes aspectos do conhecimento: a liberdade o caracteriza, junto com a sua capacidade de autodeterminar-se. A filosofia favorece a busca do saber, em que o homem pode se tornar responsável e exercer seu livre arbítrio — nisso residiria a sua dignidade —, estabelecendo assim o próprio destino. Em seus escritos, Pico combina doutrina cristã e mundo pagão, filósofos gregos e pensadores medievais, filosofia árabe, magia e cabala, conciliando a religião filosófica platônica com as diversas experiências do mundo. Apontando para uma busca do conhecimento em contínua expansão, o Discurso propõe uma filosofia universal capaz de transcender tempo e espaço, que vê no ser humano o grande milagre em que habitam o mundano e o divino.