Sinopse
"Para que serve uma boa tese? Muito mais do que apenas apresentar uma ideia e demonstrar suas proposições, uma boa tese nos faz pensar, refletir, perceber algo diferente e novo. Uma boa tese nos faz questionar algumas convicções e, finalmente, ilumina nossas certezas.
O Direito das Obrigações, notadamente as investigações acerca da vida e da morte dos contratos, tem encontrado, na prática, novos desafios, que instigam o jurista a seguir aprimorando a sua ciência.
Já há muito se reconhece: existem mais coisas entre o adimplemento e o inadimplemento do que sonha nossa vã filosofia.
O homem jurídico percebe variados fenômenos que acometem a relação contratual, muitos deles ainda não plenamente dominados.
Maria Proença Marinho se dispôs, como objeto de sua dissertação de conclusão do curso de mestrado na Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, a estudar a frustração do fim do contrato. A escolha do tema foi de extrema felicidade. Mas, muito além disso, Maria
cumpriu primorosamente sua missão.
Orientada pelo culto e seguro civilista Carlos Nelson Konder, Maria Proença Marinho, valendo-se de um estilo claro e linear, exauriu o tema. Para felicidade do leitor, explica-se a origem histórica do instituto, em decisões do início do século passado pelas cortes inglesas, passando por todo o seu desenvolvimento, com o amadurecimento do mundo jurídico, fazendo-se referência aos valores que passaram a informar o Direito Civil contemporâneo.
Maria Proença Marinho explica que, atualmente, a apreciação do adimplemento parte da análise da função concreta do negócio. Se o fim desse negócio não pode ser atingido, ele perde o seu propósito.
Deixa, assim, de possuir uma função social. Como se expõe, sem função social, sua eficácia fica comprometida. Para aprofundar sua análise, a tese examina os conceitos do enriquecimento sem causa e da boa-fé objetiva, demonstrando como esses vetores interagem com a frustração do fim do contrato, revelando que, hoje, a aplicação do Direito se faz de forma holística.
Pela leitura da tese, percebemos como a frustração do fim do contrato, no Direito contemporâneo, ganha um merecido espaço. O trabalho tem ainda o mérito de oferecer soluções a temas ainda sem uma resposta definitiva, como a repartição de custos, uma vez verificada a frustração, e a eventual revisão do contrato. Tudo é feito de forma técnica, responsável, fazendo referência crítica à atualizada doutrina e atenta à orientação da jurisprudência.
Em 2019, fui convidado a participar, juntamente com o mencionado orientador e com o erudito Professor Carlos Edison do Rêgo Monteiro, da banca responsável por apreciar a defesa da dissertação de Maria Proença Marinho. Na ocasião, tive a alegria de ler os estudos e assistir à firme defesa de Maria. Agora, para fazer essa breve apresentação, com renovado gosto, reli o excelente trabalho, para nele descobrir ainda mais méritos.
Certamente, a experiência da autora, como integrante de uma das mais eficientes e combativas bancas de advocacia do país, foi fundamental no desenvolvimento do projeto, agora transformado em livro. Afinal, a realidade da prática funciona como o mais eficiente laboratório jurídico.
Submetida frequentemente a causas difíceis e complexas, Maria Proença Marinho demonstra aguçada capacidade crítica, distinguindo, como boa advogada, os temas que merecem uma investigação mais aprofundada. Assim, mantém aceso o interesse do leitor ao seu instigante trabalho.
No período em que Maria preparava esta publicação, "preparava" também (para usar a linda imagem de Caetano Veloso)
outra pessoa. Essa fantástica experiência humana nos traz profundo amadurecimento e reflexão. Um momento mágico na vida, que, acredito, impregnou a obra, tornando-a ainda mais especial.